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Agora, silêncio.

  • Foto do escritor: Mariana milani
    Mariana milani
  • 5 de ago.
  • 1 min de leitura

Acendi mais uma vela. Da caixa com trinta, restam cinco — como dedos de uma mão que não segura mais nada.

Arrastei as meias pelo chão frio até o corredor, onde antes havia uma mesa que chamei, por um tempo, de altar.

Mas não há mais bruxas. Nem santos. Nem pedras com nomes secretos.

Não há carta de tarot da semana, nem sequer um lugar digno para colocar a vela.

Tudo me parece um abandono que começou devagar, depois ficou.


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— Quando foi que deixei de ser eu?

Peguei um pequeno copo de cachaça e plantei a vela ali, A vela, tremia.

Voltei à sala — a mesma sala que já dançou comigo, cheia de plantas que se moviam ao menor sussurro do vento.

Agora, silêncio.

O sol, cortando o assoalho de madeira, parecia uma pintura de Pollock: não de cor, mas de peso.

Cinza. Saturado.

— Quando foi que parei de me importar?

Terminei um namoro longo.

Achei que, com ele, terminava também minha capacidade de rir.

Outro dia, sentei diante do computador e escrevi: “como superar o luto de um morto-vivo”.

O Google não sabe dessas coisas.

Nenhum algoritmo alcança o que pulsa entre o nariz escorrendo e o vazio úmido de algo que se foi.

Mas algo em mim segue tentando.

Talvez, um dia, esse gigante que me pisa o peito — com seus calcanhares de chumbo — resolva descansar.

É possível, atravessar o outono e o inverno dentro do próprio corpo.

É possível acender uma vela no inferno particular da tristeza.

E ainda assim, continuar.


A combater o outono-e-inverno-em-mim,

Marimi

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