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Clique, cleque. Tuque, cluqui.

  • Foto do escritor: Mariana milani
    Mariana milani
  • 5 de ago.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 15 de ago.

Clique, cleque é o som do joelho esquerdo, que insiste em me orientar sobre as futuras previsões do tempo. Esse velho companheiro de aventuras já suportou horas de flexões em frente às privadas de lugares duvidosos. (centro de sp)


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Clique, cleque. Segundo ele, esta semana pode gear de madrugada e, ao nascer do sol, uma penumbra de névoa deve pairar pelos arredores da capital.


Tuque, cluqui. Sussurra-me a região do cruzamento entre a lombar e as nádegas. Essa me acompanha desde o verão passado. Disse que ia embora depois de alguns meses de atividade física, mas acabou ficando. Hoje, exige almofadinhas nas longas horas de home office.


Esses dois visitantes ilustres têm me oferecido dicas valiosas:

• Faça chá depois das 20h

• Troque o celular por um bastidor de bordado ponto-cruz

• Compre um rádio-relógio, para não acordar cega com o visor touchscreen

• Passe Vick no peito, debaixo do nariz, no pescoço e na planta dos pés

• Antes de dormir, tome três gotinhas de própolis.


Na noite passada, lá estava eu: bepantol no rosto, cabelos entrelaçados, lendo Anna Kariênina — essa grande novela russa sem fim. É tipo o Grey’s Anatomy da literatura, só que sem corte seco, sem trilha dramática e com muito mais neve e sofrimento existencial, com uma frestinha de janela aberta — pra não pegar friagem — sob a luz do abajur, quando os dois futriqueiros começaram a conversar entre si.


Fiquei quietinha, só ouvindo: clique cleque, tuque cluqui...

Pensei: “Ora pois, o sono é o melhor remédio.”


Mas eis que o tempo congela por um segundo.

Meu Deus do céu, Jesus, Maria e Santo Antoninho.

Me percebo com a cara besuntada, pijama-às-ricas, tapetinho de crochê ao lado da cama, meias até a canela... e falando ditado popular?!


Em um estalo, percebi que minha hora tinha chegado. No badalar dos 33, era como se eu abrisse um baú de relíquias empoeiradas: cheiro de botas suadas que percorreram longos caminhos, um tiquinho de ervas daninhas, grampos de cabelo enferrujados.


Satisfeita com a nova fase, agora que sou essa velhaca de carteirinha, descobri que o mal é contagioso. E o acesso é liberado pra quem já perdeu a chave do baú lascado.

Então entrego a vocês, caras leitoras, esse presente esquecido, que só é resgatado por quem compreende o poder consagrado aos lábios de tal pessoa ao dizer essas sábias palavras:


A noite todos os gatos são pardos

Quem com ferro fere, com ferro será ferido

Um dia é da caça, outro do caçador

Dar a César o que é de César

O hábito faz o monge

Água passada não move moinho

Não se faz uma omelete sem quebrar os ovos

Quando um burro fala, o outro abaixa a orelha

Quem semeia vento, colhe tempestade

Onde Judas perdeu as botas

O diabo não é tão feio quanto se pinta

Todo dia sai um malandro e um trouxa

O melhor travesseiro é a consciência limpa

Águas passadas não movem moinhos

Calças brancas em janeiro, sinal de pouco dinheiro.

Uma andorinha não faz verão.

Gato escaldado tem medo de água fria Quando a esmola é demais, o santo desconfia

Não grite a sua felicidade, pois a inveja tem sono leve: Antes só do que mal acompanhado É o mesmo que trocar seis por meia dúzia Tirar o cavalinho da chuva

É uma faca de dois gumes

Deixei alguma verdade-indiscutível-e-cientificamente-provada (ditados populares) fora dessa lista?

A escutar os hóspedes,

MariMi

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